Crase – A direção

Por que será que é tão difícil ensinar nem que seja a regra básica da crase? É complicado ver numa universidade (e nas placas nas ruas, e nos panfletos, e nos sites da internet, e por aí vai…) erros como uma mensagem afixada na parede terminando com “À direção”. Se o objetivo fosse escrever algo destinado à direção, destinado ao diretor, aí sim seria com crase. Mas no caso do cartaz na parede que eu vi deveria ser sem, porque a direção é a autora da mensagem, não a destinatária!

Se for ver, existe uma regra supersimples pra entender a crase: À é o feminino de AO, e ÀS é o feminino de AOS (e “ás” é o nome daquela carta de baralho :-D ). Só isso. Só com isso dá pra deduzir um monte de casos… é só pensar. Volta e meia eu vejo uma placa que diz “Use à Marquês do Pombal [nome de rua]. Poxa, se você não diz “use ao”, não escreva “use à”, né?!

(Editando: a placa era pior do que eu lembrava: ela dizia “Use á Marquês do Pombal”. Conseguiram colocar o acento virado. Vê se pode… “Á” não existe!)

Resumo 1:

para o ~ ao
para a ~ à
para ~ a

Aliás, antes de terminar este post, me lembrei de um caso relacionado. Eu sempre me admiro com as grandes faixas dos supermercados Zaffari e Bourbon em Porto Alegre escritas impecavelmente (algo mais ou menos assim): “De segunda a sábado, das 8h às 23h”. Inclusive com a abreviação certa de “horas” (apenas o h). No site também está assim. Meus parabéns a eles. Em compensação, na única vez que fui no Carrefour, encontrei cartazes dignos de risadas, mal e mal dava pra entender o que eles queriam dizer, de tão ruim que estava o português… Acho que estavam querendo baixar tanto os preços que cortaram custos até nos cuidados com a escrita…

Mas por que com dias da semana não tem crase e com horas tem? Basta ver o resumo 2, abaixo.

Resumo 2:

do ~ ao
dos ~ aos
da ~ à
das ~ às
de ~ a

39 pensamentos sobre “Crase – A direção

  1. Tem gente chegando neste blog à procura de “regras simples para entender a crase”. Claro que tem os casos menos óbvios, mas espero ter sido útil com esse “resumo em 1 regra só” :-)

  2. Opa. Muito bom, eu precisei usar “A Direção” agora.

    O primeiro site de busca no google.

    Muito útil a simplificação da regra..

    abraços

  3. Tem crase se você quiser dizer “Para a direção” ou “Ao diretor”. Já se você quiser concluir o texto com algo como “O diretor”, escreva “A direção”.

    Obs.: eu percebi que a resposta não estava 100% clara, mas preferi enfatizar a regra: *** “à” é o feminino de “ao” ***.

    Pra quem sabe espanhol, “à” corresponde a “a la” e “às” corresponde a “a las” (preposição + artigo).

  4. Obrigado pela aula. Sempre podemos melhorar a nossa escrita, se atentarmos, é claro, para o bom português. Parabéns…

  5. Gostei da explicação. Eu nunca tive dificuldade com crase, mas por um simples motivo: eu a “entendi” desde o começo. Quem “entende” a crase, sente-a até quando fala. Essa mania de ficar memorizando regrinhas não leva a nada. O aluno passa a encarar a crase como um acento (o que ela não é) que se coloca arbitrariamente após a aplicação de uma fórmula.

  6. Sabe o que mais me assusta em relação a ver “a direção” ou “use a” com crase? É que eu supunha que as pessoas sabiam, meio que instintivamente, a diferença entre “a” proposição e “a” artigo; e que sabiam que a crase só pode ocorrer quando existe a preposição (daí erros como “à ele”). Isso já é saber metade da regra, hehe. Mas quando alguém coloca crase em “A direção” ou em “Use a Marquês do Pombal”, quer dizer que a pessoa sequer sabe o que é um artigo! Credo!

  7. 4) Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas das seguintes frases:

    Foi graças ______ esse olhar que você o conquistou.
    Ele foi o primeiro ______ chegar.
    Não compare sua filha ______ ela.

    a) a, à, a
    b) à, à, à
    c) à, a, a
    d) a, a, a
    e) a, a, à

  8. Acredito que o h, nesse caso, não é abreviação de hora, mas o símbolo que representa hora no Sistema Internacional de Unidades, adotado pelo Brasil em 1962.

  9. Mais uns exemplos:

    Se você diz “aos sábados”, é óbvio que se escreve “às sextas” (com crase).

    Mas como se diz “todos os sábados”, escrevemos “todas as sextas” (sem crase).

    Observando a expressão “ao meio-dia”, percebe-se que se deve escrever “à meia-noite” (com crase).

    Mas já que dizemos “Após o meio-dia”, a lógica nos leva a escrever “após a meia-noite” (sem crase).

    Qualquer um que sabe português consegue diferenciar intuitivamente “os” de “aos”, são coisas bem diferentes. Passe a frase para o feminino e teremos “as” e “às”, respectivamente.

  10. ótimo, de tando ver “à direção” escrita por aí fiquei na duvida na hora de escrever, mas como não achei nem um motivo pra inserir uma crase, fiz o certo! Esse site tirou minha dúvida, agora quando alguém vier criticar o meu cartaz saberei o q dizer! Voltarei aqui pra tirar mais dúvidas

  11. No penúltimo parágrafo você diz: “na única vez que fui no Carrefour” então me surgiu a dúvida…

    Carrefour é o nome do seu carro o qual você foi (((AO))) mercado Carrefour?

    Você também vai (((NO))) banheiro?

    Fala sério…

    • Carrefour é um nome de supermercado, não é o carro (((NO))) QUAL eu fui.

      Sim, eu vou (((NO))) banheiro. Talvez você tenha aprendido português apenas por livros ou talvez conheça mais a variante europeia, sem ter contato com a língua realmente falada no Brasil, onde se diz “ir no/na” com muita frequência, e essa construção vem desde o tempo do latim.

      Se os escritores de gramáticas querem tentar “moldar” a língua para usar “a” com movimento e “em” para local estático então, bem, isso tem sua lógica e sua tradição, mas o uso generalizado de “em” também tem sua lógica e sua tradição!

      Para consultar:

      http://showdegramatica.blogspot.com.br/2009/08/ir-ao-banheiro-pode-ser-uma-construcao.html

      Vou ‘no’ médico? Certo ou Errado?

      http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2804200503.htm

      Ou então algum dos vários artigos do Marcos Bagno (não achei um bom sobre o tema numa busca rápida — parece que o site dele está fora do ar — mas sei que tem vários). Não concordo com tudo o que ele diz, mas ele dá uma visão alternativa às gramáticas tradicionais muito interessante.

      Ah, eu usei “tem” no lugar de “há”, espero que isso não te incomode muito.

  12. Quanta ignorância!
    Não seria mais fácil e elegante aceitar que na LÍNGUA CULTA o correto é usar “ao” em vez de “no”? Você foi atrás de sites de autores que expõem um ponto de vista minoritário, quero ver você ir fazer uma prova de concurso e em uma questão semelhante optar por “no” e não por “ao”. Vai Fundo! Sim, fundo! Bem fundo no zero que você irá levar! Concordo com quem postou o seu erro, é mais simples você querer aceitá-lo do que justificá-lo! Ou você realmente se acha o SABE TUDO da gramática? Abra sua mente! VOCÊ NÃO É O PAPA DA LÍNGUA PORTUGUESA!

    • Não sei se respondo ao conteúdo da sua resposta, ou à agressividade dela… Vou **tentar** responder ao conteúdo…

      1 – Não sei se você percebeu, mas você é a primeira pessoa a falar LÍNGUA CULTA e CONCURSO neste post e em todos os comentários. Talvez eu devesse adicionar um aviso dizendo que o meu blog é escrito na LÍNGUA INFORMAL BRASILEIRA COM ALGUNS CUIDADOS EM RELAÇÃO À NORMA CULTA MAS NÃO TODOS, até porque não quero que meu blog pareça um livro, quero que pareça uma conversa. Se não fosse assim, eu não poderia escrever “Poxa”, “Bah”, “Tchê”, “Ir no”, “Pra”, deveria cuidar para não exagerar nas reticências e exclamações, não deveria usar carinhas (emoticons) como :-), :-D, etc.

      2 – Esse assunto já foi muito falado… Procure por “os menino pega o peixe” na internet. Um certo livro foi muito criticado por dizer o mesmo que eu digo. Eu recomendo que, em vez de ler só as opiniões agressivas contra o livro, leia a fonte. Este PDF parece ser uma fonte confiável (se não for, pode me avisar): http://media.folha.uol.com.br/saber/2011/05/18/escrever_cap1.pdf

      Incluo a citação: “Mais uma vez, é importante que o falante de português domine as duas variedades e escolha a que julgar adequada à sua situação de fala.” (página 16). Foi o que eu fiz no meu blog (se bem que eu não concordo que existam só 2 variedades… existem muitas e misturadas)

      3 – Não, eu não vou fazer concurso com a mesma linguagem que escrevo no meu blog, não adianta pedir. Isso é outra coisa que eu nunca disse aqui, mas você quis trazer esse assunto, como se discordássemos. Se você quer saber a minha opinião: sim, no concurso escrevemos “ir ao”. Aliás, falando em concurso, já fiz e já passei.

      4 – É claro que você concorda com quem postou o meu erro, porque vocês são a mesma pessoa (sim, o administrador do blog pode ver isso).

      5 – Se eu acho que sei tudo? ONDE eu disse isso? É óbvio que não, por isso eu citei referências (minoritárias ou não, elas existem aos montes e qualquer um que estude linguística sabe disso). E é óbvio que eu não sou o papa da língua portuguesa, não só porque esse título não existe mas também porque este é apenas um blog perdido na internet sem nenhum valor acadêmico nem científico (nem religioso). Se você quer provocar discussão, devia postar coisas das quais eu discordo, não coisas com as quais eu concordo! (me refiro aos itens 3 e 5 da minha mensagem, onde concordei contigo — ops, comecei frase com pronome oblíquo, misturei “você” com “tu”… vou pro inferno)

      6 – Agora, “abra sua mente”? Eu falei que concordo que a norma culta nos “manda” dizer “ir ao”, eu falei que a origem do “ir no” é tão antiga quanto o latim, eu mostrei com referências que existem diversas variantes da língua e não apenas duas (língua culta contra língua popular), escolhendo para o meu blog a mistura que achei mais adequada, e você parece querer que eu escreva no meu blog do mesmo jeito que escrevo num concurso. Exatamente o que é abrir e o que é fechar a mente? E o que é ignorância?

  13. Gostei no início das perguntas e tira-dúvidas, percebi que era muito interessante para qualquer pessoa que lesse as explicações contudo, ao final me aborreci; e, consequentemente concluí: como falta educação ao povo brasileiro! Até quem parece saber um pouquinho só da gramática se incha de tal forma que transparece sua absurda ignorância. Parem! Ajudem a tirar dúvidas, demonstrem a inteligência particular e conhecimentos, mas sem demonstrar falta de sabedoria e educação geral.

    Abraço, monôs!

  14. Olá! Pode ajudar-me? Ou me ajudar?
    Qual é a maneira correta?
    “Grupo destinado à todos os fanáticos…” ou “Grupo destinado para todos os fanáticos…”
    Ou troca o “destinado” por dedicado ou outro semelhante?
    Já aproveitando, voltando a frase inicial. Na maioria das vezes, eu utilizo o pronome “me” ou ” se* ” após o verbo. Ex. envie-me, vende-se, ajude-me, e muitos outros casos (é que agora eu não lembro). Em quais casos eu acerto, e em quais eu estou errando? Caso exista um regra específica.
    se* popularmente é conjunção, porém não só…
    Outra rápida, ainda utilizam o verbo-gerúndio em alguns casos como “derretendo-o” tornando-o”?
    Obrigado!

    • Vamos pensar segundo a lógica da crase:
      Existe “ao todos”? Existe “aos todos”? Não né? Soa mal. Então não existe também no feminino: não existe “à todos” nem “às todos”. Use sempre “destinado a todos” (pode trocar o “a” por “para”, mas eu não trocaria).

      Sobre as outras perguntas (pronomes, gerúndio), me parece tudo correto, mas se tiver dúvida mesmo é melhor perguntar para um professor de verdade.

  15. Sim, é verdade. Eu esqueci de colocar essa opção “destinado a todos”, que é a correta, conforme explicado acima. Um exemplo fácil dito pelo Sr. “Poxa, se você não diz “use ao”, não escreva “use à”, né?!”.
    Língua Portuguesa é complicada! Desculpe incomodá-lo e fiquei espantado ao saber que o Sr. não é professor. Putz! É difícil escrever textos para um pessoa mais informada sobre o idioma em que você utiliza, pois sempre fico com a sensação de ter errado algo e a pessoa sabe. hehe…
    Agora, existem casos em que apenas o masculino ou feminino é utilizado, não?
    Por exemplo: “Fique à vontade” ou estou falando bobeira?
    Não precisa ter pressa para responder, até estranhei a rapidez =D
    Ah, obrigado!

    • Como eu diria bem informalmente: “Capaz, nem te estressa!” :-) Todo mundo desliza de vez em quando, e nem todas as comunicações precisam ser extremamente regradas! E eu nem sou professor, sou apenas um cara nerd da internet.

      Tem um caso de crase que não é tão fácil de explicar comparando com o “ao”, que é justamente esse exemplo do “à vontade”:

      Por um lado, vontade é feminino (se diz “minha vontade”, não “meu vontade”), então pode ter crase. Mas e aí, pode ou deve? Fica bem difícil encontrar um exemplo equivalente com uma palavra masculina em expressões como estas: às vezes, à vontade… Vai substituir mentalmente como? “Aos momentos”? “Nas vezes”? “Ao gosto do freguês”? Até serve para ter uma ideia geral, mas não fica a mesma coisa e a gente continua em dúvida. Nesse caso eu acho que vale a pena um pouquinho de decoreba e sim, tem crase nessas expressões. Mas sempre dê uma conferida: “vezes” é feminino, “vontade” é feminino, “gás” é masculino (“fogão a gás” é sem crase), “vale a pena” → “vale um prêmio”, etc.

      Aliás, cá entre nós, existem alguns casos que nem os gramáticos se entendem muito… Procurando na internet encontrei até um tal de “acento grave diferencial”, que eu nunca tinha ouvido falar! Mas vamos deixar isso pra lá por enquanto pensar nos casos simples primeiro! Eles cobrem a maioria das situações. E em úúúúúltimo caso, se a dúvida persistir, escreva sem crase :-D Mesmo se errar fica menos feio (do mesmo jeito que “imperdivel” sem acento fica menos feio do que “ímperdívél” com três acentos, haahhahahaha — eu vi isso uma vez!)

      E conforme eu já disse em outro comentário, aprender outra língua também ajuda: espanhol (à = a la), inglês (à = to the), esperanto (à = al la), etc. Só francês que deve atrapalhar um pouquinho, porque eles usam o “à” de um jeito diferente :-)

  16. Valeu pelas sugestões! “ímperdívél” é fogo! Estou tentando melhorar meu inglês… E obrigado mesmo, desculpe o incômodo. Aproveite o restante do Carnaval, caso você não seja do Sul. Abraço.

  17. Crase – de segunda a sexta – Visions of hope

  18. Republicou isso em sdaalencare comentado:
    Por que será que é tão difícil ensinar nem que seja a regra básica da crase? É complicado ver numa universidade (e nas placas nas ruas, e nos panfletos, e nos sites da internet, e por aí vai…) erros como uma mensagem afixada na parede terminando com “À direção”. Se o objetivo fosse escrever algo destinado à direção, destinado ao diretor, aí sim seria com crase. Mas no caso do cartaz na parede que eu vi deveria ser sem, porque a direção é a autora da mensagem, não a destinatária!

  19. Olá! Estou com uma dúvida:
    Página destinada a professores, gestores, pais…
    Página destinada aos professores, gestores, pais…
    Página destinada à professores, gestores, pais…

    • Lembrando que À é o feminino de AO, e ÀS é o feminino de AOS, a última frase está totalmente errada, porque não fecha nem o número (À está no singular, enquanto o resto está no plural), nem em gênero (À está no feminino, enquanto o resto está no masculino/neutro).

      As outras duas frases estão certas, fica ao gosto de cada um.

      A última poderia ser corrigida se fosse: àS professorAs, gestorAs, MÃES… mas aí obviamente mudaria o sentido da frase.

  20. Professor, a dificuldade com crase aqui é grande. Poderia me ajudar com a frase “[…] filmes destinados às crianças.”? Com crase ou sem?

    • Oi, primeiro, não sou professor, sou só um nerd que gosta de entender os detalhes das coisas.

      Segundo, tem uns exemplos bem parecidos aqui na página, então para não dar a resposta de mão beijada (mais do que já está) será que você conseguiria me explicar em qual parte do raciocício você empacou? Porque se aprender o funcionamento poderemos resolver não só esta dúvida específica, mas todas as dúvidas futuras.

      Você já tentou o truque de substituir mentalmente a palavra “crianças” por uma palavra masculina? O que aconteceu?

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